16/08/2010

Mestre Humberto Balogum

Morre um griot: mais uma biblioteca perdida
Por Sandra Martins (*)

Morreu, ontem, 12 de agosto, no Rio de Janeiro, um dos últimos guardiões da tradição Angola-Congo, mestre Humberto Balogum, aos 90 anos, com câncer na próstata. Doutor em percussão e poesia, este profeta da Lapa advogou para um grupo, que durante muito tempo foi marginalizado, etiquetadas como prostitutas. “No crime, eu ajudei muito as mulheres. As mulheres, as ‘borboletas do asfalto’, elas eram perseguidas. A polícia as prendia e eu as soltava.”

Ministrou palestras, produziu oficinas, viajou o mundo, aprendeu, escutou e repassou. Mas, segundo ele: “Quanto mais sei, mas sei que nada sei.”

Carismático, este griot brasileiro, em 2005, foi protagonista de um documentário dirigido por Rodrigo Savastano. Neste curta, “Humberto Balogum”, falado em português, alemão e quimbundo, o poliglota da Lapa, canta e cita Sócrates. Entre falas memoráveis, uma declaração de amor a sua esposa, que veio a falecer pouco tempo depois da gravação do curta. “Não é minha esposa, segunda mãe que tenho, a qual eu amo e venero e, tenho como a pessoa mais importante da minha vida: é minha esposa Marleide Hesse, parente do grande escritor Hermann Hesse.” http://www.portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=3312#

Em 2008, na segunda edição do projeto Jongá – Cantos de Fé, de Trabalho e de Orgia, realizado no Caixa Cultural Rio de Janeiro, Mestre Humberto Balogum, um dos últimos guardiões da tradição Angola-Congo, ministrou ‘workshops’ de percussão.

Ao analisar o Jongo tradicional e o contemporâneo, o músico e poeta Augusto Bapt, da Banda Caixa Preta, recorreu aos conhecimentos de grandes mestres: “sem dúvida é o nosso Cumbabá maior, Mestre Umberto Balogun. Esse sempre fez questão de me alertar para as mais variadas fontes que geraram o formato dessa manifestação, assim como vemos hoje. (...) trata-se de uma herança do povo Bantu que consiste em prestar culto aos seus mortos, através de toques, cânticos e movimentos corporais repetitivos, representando as seqüelas deixadas no corpo pelo trabalho diário na Lavoura, principal atividade desse povo, de cultura, dominantemente, campesina, que veio se afortunando de almas desencarnadas nos porões dos Tumbeiros. ‘Por isso, que não gosto de capitão do mato, por isso que não gosto de patrão"! Por isso, luto e combato, sequelas da escravidão...’" < http://augustobapt.blogspot.com/2010_05_01_archive.html>


(*) Jornalista e da coordenação da Cojira-Rio/SJMPRJ

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